quinta-feira, 19 de abril de 2012

Deixando sementes... plantando vidas.


 Deixando Sementes....




Em 2006/2007 trabalhei com um grupo de adolescente com idades entre 15, 16 e 17 anos em Pelotas RS, chamado Projeto Jovem. 
Minha turma era de 26   meninos e meninas  vindo de famílias desestruturadas e multi-problemáticas, a maioria deles em liberdade assistida , medida sócio-educativa , ou com alguma pendência judicial. 
Um dos casos mais graves  era o de  uma guria que a mãe estava  falecida há tempos, ela engravidou-se do próprio pai e devido a isto e outras razões teve perturbações mentais. Quando chegou o dia do parto ela se encontrava   sozinha em casa, ganhou a criança ali mesmo. Como  estava sangrando muito após o parto ela decidiu ir ao posto de saúde, e deixou o recém-nascido sozinho em casa dentro de um guarda roupa. Ao ser examinada o médico constatou o parto e perguntou onde estava o recém-nascido, no que ela disse: Deixei com minha mãe em casa! Quando chegaram para averiguar o bebe já estava morto dentro do guarda roupa.

Como ela tinha 16 anos e problemas mentais a justiça  a encaminhou  para liberdade assistida, e assim ela chegou toda destruída no Projeto jovem. E nas minhas quase inexperientes mãos. 
Pela manha eu trabalhava como estagiária  no Poder judiciário do Rio grande do sul e a tarde no Projeto Jovem.

O projeto jovem era uma iniciativa  do governo Federal a principio, pioneiro em pelotas, lindo no papel mas na prática nada funcionava ,  não se tinha recurso, nem espaço adequado, nem pagavam os profissionais.  Mas decidi carregar meus alunos e o projeto mesmo assim. E todas as tardes lá estávamos, eu com meus 26 alunos.

Era um desafio, manter  adolescentes a tarde toda, dia após dia com cuspi e  giz, e haja criatividade. Eu inventava de tudo; trabalhei pintura, apenas levando um quadro de tinta á óleo que eu tinha em casa tentando  e explorando a imaginação deles, musica e os vários ritmos do nosso Brasil. Dança e sua expressão corporal, meio ambiente, ética, tudo no mundo... De uma forma bem divertida para ser atrativo para eles.

Fizemos uma biblioteca no projeto, conseguindo doações, e também um mini museu com bichos catalogados, vários trabalhos nas comunidades como recolher lixo, orientar sobre o meio ambiente, comecei a fazer deles meus multiplicadores. Antes visto na comunidade como "os sem o que fazer", agora olhados de outra forma como cidadãos participantes. A turma se fortificou deu frutos e lindos frutos. Criamos um  grupo teatro, jogral.  Um ano de trabalho duro, sem valoração financeira, mas o ganho maior foi ter sido referencial para estes meus 26 adolescentes, que amei como filhos, que participei das frustrações, rimos e choramos juntos, conheci todos da família, e me fiz quase de casa,  intervi totalmente nas vidas e suas histórias. 
Foi rico, recompensador e chegou o dia que eles já podiam voar sem mim, então tive que partir.

O dia da despedida, todos derramavam lágrimas... e  hoje quando me remeto a tal fato me emociono novamente, ao lembrar de todo  carinho, dos rostinhos, dos soluços que viam da alma,  da gratidão que eles tinham.

Abaixo copiei algumas das cartas e mensagens que eles escreveram  para mim no dia da nossa despedida que guardo ate o presente momento com muito carinho, reescrevi na íntegra, por isto mantive os erros de gramática.


Patricia:

Desejo a você toda a felicidade porque não há pessoa no mundo que se iguale a ti e que tenha a sua doçura sua sinceridade e que seja perfeita como tu.
Quero que saibas que para mim tu foste uma segunda mãe e te desejo tudo de bom e que os seus sonhos realizem e que esses sonhos se transformem em conquistas!
Com um olhar te olhei
Com um sorriso te chamei
Com lágrimas te deixarei
Mas nunca te esquecerei
Bjs da tua aluna de hoje e sempre

Aliandra


Pouco foi o tempo.
Mas há lembranças
Que mesmo o tempo não faz diferença
Há doutrinas, pessoas como tu
Que são deliberadamente: presentes do reino do céu.
Obrigada e muito sucesso.

Cássio Soares

Patricia:

Eu desejo toda a sorte do mundo, que tu possa ter aprendido alguma coisa com nós.
Também possa ter ensina ainda mais. E q tu possa ter varias recordações que tenham te deixado saudades e que tu possa ter acreditado em nossa força de vontade, que tu tenha acreditado e gostado de nossas ideais e ter agüentado nossas fraquezas e esteja alegre por nossas alegrias, brincadeiras e que tu possa nunca mais ter esquecido dos nossos sorrisos como uma lembrança constante e eterna para sempre.
Beijos de tua aluna pelotense , e abraços fortes para nunca mais te esquecer.

Tamara Pereira Lima

Patricia

Faça uma boa viajem, em primeiro lugar quero agradecer por tudo que trouxeste  todas as tardes para nós do Agente Jovem aprender, e tudo que trouxeste é fundamental para o nosso futuro ser melhor. Que Deus ilumine tua vida e tua família que lhe dê tudo de bom.
Mesmo com nossas discussões nós fomos um projeto muito , mas muito unido , mesmo tendo alguns que não ajudavam éramos um grupo feliz.
Vais fazer falta para gente, nós gostamos muito de ti, infelizmente o destino separou tu da gente.
Um mega beijo

Diego Lopes da Silva

Patricia Gostei muito ter conhecido tu, tu é carinhosa e brinca todas as vezes com nós. Gostei muito mesmo com este teu jeito sincero . eu não quero que tu saísse .
Mas nunca se esquece de nós e nunca que vou esquecer de ti, sempre lembra deste guri brincalhão .
Mil beijos de Carlos

Patricia
Continue sendo essa pessoa boa e humilde .
E lá aonde estiver que tu seja muito feliz
E não se esqueça das coisas que fizeste aqui tu plantou um grãozinho que agora virou um jardim de flores.
Aprendemos muito coisa contigo e isso pode ter certeza vai ficar na nossa memória.
Um dia Deus veio do céu pra terra mas foi tao rápido que ninguém viu, E deixou um anjinho aqui: tú
Que bom que te encontrei. Um dia Deus olhou aqui para terra e me perguntou qual era o meu desejo para o dia de hoje. E eu falei : cuida bem do anjo que esta lendo essa mensagem. Beijos
para esse anjo que iluminou nosso caminho :tu

Èrica

Aprendi muitas coisas boas
Patrícia que tu seja muito feliz
E continue assim muito especial
Continue ajudando as pessoas
Que tu consigas alcançar seus objetivos
Continue assim tão legal:

Beijos Vinicius Hulivier de Souza


Patrícia
Sua vida é uma história igual a de todos, mas o projeto agente Jovem garanto que foi uma grande parte desta historia de sua vida,
Esta despedida garanto que é o começo de uma grande história no Projeto  e em nossa vida.
Obrigada por tudo e boa sorte nesta nova etapa da tua vida

Ass: Douglas

Patricia
Na minha vida conheci muitas pessoas especiais e tu é uma delas, com sua simpatia e seu carisma e amizade, seja assim sempre que irás longe
Tu entrou na nossa vida, para nunca mais sair.

Boa sorte. Acauã o seu amigo de sempre



Se soubesse sentir saudades sem sofrer , seria simples sorrir sabia?
As pessoas deixam de existir quando nelas deixamos de pensar, tu existir.
Sempre , pois jamais deixarei de pensar em ti.
Te adoro , beijos

Renan

Patricia
De amiga p amiga que nasceu nossa amizade
Hoje digo que te adoro com toda sinceridade
Quando tu brigar contigo mesma
Quando tu enjoar de ti
Não se jogue fora
De tu para gente.

Vc é dimais ta, Leiticia


Patricia
Eu vou morrer de saudades e sentir muita falta de ti . te adoro
Beijos te amo : Karem

Eu aprendi muitas coisas boas como perder a timidez.
Patricia eu desejo que vc seja muito feliz lá fora, e que tu continue sendo como você é .
Parabéns : patrícia você merece
.
Pablo Rodrigo dos Santos Monteiro

Patricia ,patrícia você me ensinou muita coisa. Do pouco tempo que eu estou aqui contigo eu aprendi que eu não preciso ficar mais sozinho, e agora eu fico sempre acompanhado e de bem com a vida com amigos, obrigada por tudo,

Luiz Eduardo

Patrícia
Voce é uma pessoa muito especial  para mim. E todo este tempo você me fez sorrir e me fez chorar e me ensinou a ser uma pessoa legal . você é tudo de bom que aconteceu na minha vida.
Tu chegou de uma maneira muito meiga e conquistou todos e agora tu vai embora, porq quer tentar sua vida, já esta feita mas falta alguma coisa e te desejo toda felicidade do mundo.
Adorei ter te conhecido tu foi uma segunda mãe para mim, obrigada por me ensinar o que é ética.
Você foi diferente, você é muito divertida, as vezes mesmo brava com a vida esta sempre alegre e sei que já lhe chateei muito mas foi mal agora eu choro com sua falta, vou morrer de saudades
Daiana de Castro Villela sua filha do coração

Paty
Te amo muito, adorei ter te conhecido e agradeço a Deus todos os dias pelas coisas maravilhosas que aprendi contigo e pelos momentos que passamos juntas, que para mim foi inesquecível.
Nunca vou te esquecer porque mais que tudo tu foi minha amiga, como uma segunda mãe linda  que tive.
Te amo .é serio, de todo meu coração, beijos minha remexedora

 Michele
25-04-07









quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Meus poemas que contam minha história.


Existem pessoas que são amadas e queridas, mas um amor que dói, machuca e porque não dizer ate que destrói? 

Ausência

Desde pequena, sei que foi por sua carreira, viajar sem estar no lar
Quando as rodas giravam e a fumaça saia mais apressava sua ida e por dentro nossas lágrimas também saiam...
Fez da poeira o perfume... Sua vida este costume.
O teto sua carreta... O volante seu calmante.
Hoje existe um vazio que não esta preenchido.
Não é carência, mas uma grande ausência de você: Pai.



 E Sabe quando tu sonhas em amar alguém, e deseja tanto que este alguém exista que acaba por criar mentalmente esta pessoa? Foi num destes momentos de delírios que escrevi este poema:

A espera...

Quando tudo se aviva e cresce o amor dentro começa a florir...
E surgi também um vazio que não esta preenchido, amor esquecido...
Talvez esteja no fundo do mar, mas parece que não vai flutuar...
Talvez esteja nas areias, mas parece que vagueia...
Quem sabe nos rios ? mas não dá nem um pio.
Talvez esteja nos montes tão altos, mas parece perdido a cada instante...
Talvez nas estrelas dos céus que ficam além do véu. Enfim.
Parece estar longe... Parece que se constrange em encontrar, ficar, reinar, ou seja, nascer, crescer e florir,
Nada vai substituir este amor que espera por ti.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cão herói

Rintim,era o nome de todos meus cachorros que tive quando criança. Era como se fosse possível eternizar o cachorro repetindo  o mesmo nome. Com esta “teoria” amenizava  o sentimento de perda na morte do animal.  Não sei qual dos Rintim número mil estava, mas este  era especial, raça vira-lata, como todos os outros,  era  malhado de preto e branco.
 Ele e eu tínhamos uma afinidade que transcendia de fato meu imaginário, ele era meu maior e único amigo,  confidente, meu guardião, super herói, e cobaia. A minha mãe odiava qualquer tipo de vida animal por perto, mas permitia que eu ficasse com ele desde que cuidasse da alimentação, sujeira e educação. Mas volta e meia ela dava uma vassourada nele.
No almoço quando milagrosamente  tinha o tal  bife de fígado, que eu odiava, lá estava o Rintim a me ajudar nesta super missão impossível. Eu ainda ficava com os elogios de ter conseguido comer tudo. De anemia sei que este Rintim não morreu. Quando levava uma surra da minha mãe, e este evento era quase todos os dias, novamente estava meu ombro  amigo Rintiano para chorar e contar todos meus dilemas e estratégias para fugirmos de casa. Ele me protegia ate dos beijos com gosto de café da minha avó, eu odiava estes beijos,  todo molhado dela, e acho que é devido a isto que ate hoje  nunca tomei café, por mais que as pessoas insistam. Quando ela vinha de pronto a me abraçar,   meu salvador Rintim rosnava, latia e lançava-se tentando atacar a vovó, ela ficava com medo,  me liberando  em seguida para meu completo alívio.
Eu não sei bem aonde eu tirei a ideia, mas pensei que poderia ser uma dentista, e porque não começar a praticar naquele mesmo dia? Meu primeiro e único paciente: Rintim, ele ficava um bom tempo com a boca aberta, meus instrumentos técnicos não passavam de uma agulha de crochê, três bolotas de chicletes mastigados. Chicletes estes que eram do dia anterior que eu guardava grudado debaixo da cama para ninguém pegar. O procedimento adotado era: Retirar as coisas pretas  dos dentes do paciente, que hoje sei que são tártaros. Eu raspava com agulha de crochê, e colocava   massinha “chicletes” nos buracos dos dentes de trás do paciente. Rintim adorava todo o procedimento, não reclamava , penso que ele gostava, porque assim que colocava os chicletes ele engolia tudo, como se fosse um regalo.
Porém, como toda pessoa tem seus defeitos, Rintim que eu o considerava como pessoa, também tinha os seus. Ele era enlouquecido por uma bicicleta, as bikes ou restos delas passavam na porta de casa e ele atacava latindo, hora e outra ganhava uma pesada de um ciclista na cara. Devido a isto ele não tinha acesso a rua, mas era tão esperto que por vezes fugia, numa destas fugas ele foi atropelado por uma das bicicletas que ele veementemente atacava, pedi a Deus, roguei em lagrimas para a salvação de Rintim. Ele conseguiu sobreviver então pensei: Isto realmente é um milagre, Deus me escutou e atendeu meu pedido. Passando este episódio minha família como sempre meio cigana, inventou de mudar novamente e fomos para uma cidade maior. Quando paramos num posto de gasolina, Rintim que estava junto com a mudança na carroceria do caminhão, se lançou no asfalto latindo e atacando os carros. Eu gritava em vão seu nome. Os carros tentavam fugir dele; ele desnorteado se lançava em todas as direções. E aconteceu o que intuitivamente temia, ele foi atropelado ali, sem que eu nada pudesse fazer para protegê-lo.
Coloquei culpa na mudança , chorei horrores, roguei mais de mil vezes aos céus: Por favor! Deus ,ressuscite meu cachorro! Por algum milagre, ele ficou vivo, mas mancava. Eu pensava: Poxa, o Rintim é super forte, talvez ele seja um super cachorro, foi atropelado duas vezes e não morreu. Passado alguns  meses mudamos de novo para o interior e com isto o retornou dos conflitos de Rintim com as bicicletas. Qual foi minha surpresa , um dia ao se levantar pela manhã,  o vi morto! Não por atropelamento, mas por uma bola de carne moída envenenada, que alguém, provavelmente um ciclista já stressado, jogou por cima do muro e ele comeu inocentemente. A partir disto todos que passavam na porta eu pensava: Deve ser este... Não! Aquele tem cara de mal... e segui dias a perseguir o provável assassino de Rintim, com uma seleção enorme de prováveis culpados.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sobrevivente...


A lembrança de quando se é criança, é bem particular de cada um, alguns lembram mais que outros, por alguma ocasião se bloqueiam e não lembram de certos fatos e ate acontecimentos.
Dentre  as primeiras lembranças que marcaram minha infância tenho uma cena : Eu e minha irmã kátia,  5 anos e ela 6 anos, assistíamos TV a tarde algum programa ,que não me recordo qual era. Não sei por  qual motivo a TV ficava no quarto de minha mãe em cima de  numa cômoda, o quarto ainda tinha  a cama de casal e um guarda-roupa. de repente sem nenhum motivo aparente deu um vento mais forte a casa de "adobão" caiu, nos soterrando completamente.. Eu me sentia sufocada lá em baixo tudo era escuro e respira com muita dificuldade, alguma parte do meu frágil corpo doía mas não tinha noção de qual era, mal conseguia abrir os olhos devido a tanta poeira, terra.  
 O barulho do desabamento foi estrondoso e isto fez com que todos da vizinhança viessem ver o que tinha acontecido. Ao longe ouvia as vozes desesperadas  falando ao mesmo tempo,"mortas", alguém sugeriu, outros  nos chamando.  Também não tenho noção de quanto tempo se passou.  Alguém perguntou: aonde esta a mãe delas? A irmã mais velha fica na escola,  vá avisar então, que suas irmãs morreram soterrada. Que tragédia diziam, outros chamavam Jesus, Eu tentava me mexer mas algo me segurava forte, estava presa, assustada demais para pronunciar algo eu chorei alto... Dai senti uma movimentação intensa, pelo meu choro concluíram que estávamos vivas e se empenharam em retirar os entulhos. Senti quando a luz foi se abrindo aos poucos em meio a uma poeira densa, e lá estávamos: eu e minha irmã debaixo do bendito e salvador Guarda-roupas. O guarda-roupa com a ajuda de Deus se virou sobre nós  nos protegendo dos demais destroços do telhado e paredes.
Milagre! As pessoas diziam. Eu e minha irmã kátia estávamos todas imundas mas nem nos incomodamos, agora que já tinha passado o pior achava tudo bem divertido, nisto vi minha irmã mais velha Claudia com uniforme de escola chorando e minha mãe, que depois de horas, chegava enlouquecida, vendo o que tinha sobrado da casa no chão,  ela tinha  ido no salão arrumar os cabelos  e  nos deixado sozinhas em casa assistindo TV. Lembro que na minha inocência pensei: Não temos mais casa, agora iremos morar em uma  melhor. Eba!